Cia. Vatá

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A Cia. Vatá é um grupo de dança de inclinação contemporânea fundado em 1994, na cidade do Rio de Janeiro, por Valéria Pinheiro, coreógrafa e sapateadora cearense. Em 2000, a companhia estabeleceu-se no Ceará. Desde então, apresentou dois espetáculos que fazem parte de uma trilogia: Bagaceira – A Dança dos Mestres e Bagaceira – A Dança dos Orixás. A companhia está trabalhando agora na produção de um outro espetáculo que deve finalizar essa trilogia: Bagaceira – A dança dos Xamans. Hoje o grupo conta com 20 integrantes, envolvendo, além dos dançarinos, técnicos e percussionistas.

O trabalho da companhia exemplifica bem como é possível realizar um mergulho na tradição para dela buscar elementos válidos para a arte contemporânea. Nas palavras de Valéria Pinheiro, a “tradição é o que há de mais contemporâneo que você possa imaginar”. Essa idéia parte da concepção de oralidade como o elemento mais marcante da tradição nordestina e que nos acompanha até hoje, ou seja, é a contemporaneização dessa tradição com o passar dos séculos.

Tendo nascido em Juazeiro do Norte, filha de um mestre de Reisado (seu pai, Dorgival Santos), Pinheiro teve influência direta de elementos tradicionais da cultura nordestina. Já adulta, viajou para o Rio de Janeiro, onde subiu o morro para entender como surgiu o samba de raiz. A partir desse estudo foi que Pinheiro começou a trabalhar os elementos da cultura popular na dança.

O princípio básico proposto por Pinheiro é baseado na idéia de “corpo tradicional”. Para entender esta concepção, é necessário primeiro compreender o conceito de “penta-musculatura” desenvolvido pela coreógrafa. Ele determina que o ambiente, o habitat em que se vive, influencia diretamente o corpo não apenas fisicamente, mas metafisicamente através da alma, da mente, do espaço e do tempo. Tudo que acontece exterior a este corpo deixa nele impressões em pelo menos alguma dessas musculaturas. Diante deste fator, Valéria acredita haver uma memória corporal ancestral, presente antes mesmo de nos darmos conta que ela existe.

Para descobrir que corpo é este que cada um traz consigo, Pinheiro tenta fazer seus bailarinos descobrirem uma “dança pessoal” própria, que constaria na busca por uma matriz estética não a partir de uma técnica pré-estabelecida, como o clássico ou moderno de Martha Graham, mas sim a partir dos elementos impressos no corpo do bailarino a partir do lugar em que ele habita, gerando movimentos sem juízo de valor, ou seja, movimentos naturais, autênticos desse corpo. As técnicas aparecem apenas para trabalhar a musculatura do corpo de forma que o bailarino possa entender como ela funciona e conseguir ter domínio sobre seus movimentos. Esta mistura entre as técnicas de dança contemporânea e práticas tradicionais é resultado do sincretismo encontrado em seu trabalho.

O trabalho realizado distancia-se daquele realizado por um bom número de grupos ditos folclóricos, que não vão além da mera reprodução caricata das danças tradicionais cearenses. No caso da Cia. Vatá, os bailarinos fazem seu laboratório de preparação dentro das comunidades tradicionais, vivenciando e imprimindo nos seus corpos respostas aos elementos novos que os fazem revelar suas próprias ancestralidades corporais até então escondidas. O princípio de Pinheiro é justificado, de certa forma, a partir da idéia de Santaella, que apresenta o corpo como um sistema capaz de responder às mudanças e entrar em sintonia com um mundo em que os fluxos, movimentos e conexões se acentuam cada vez mais. A companhia consegue exatamente se moldar à tradição, mas sem perder o viés dos fluxos cada vez mais acentuados do mundo. É isso que torna o seu trabalho uma expressão da dança contemporânea.

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