Chula

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Autor: Massuel dos Reis Bernardi

A Chula é uma das Danças Gaúchas mais emblemáticas. Dançada em desafio, praticada apenas por homens, a chula carrega uma força histórica e tradicionalista Sul-rio-grandense inclusive de gênero.


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Tabela de conteúdo

A Dança

Uma vara de madeira denominada lança e medindo de 2 a 4 metros de comprimento é colocada no chão, com dois ou três dançarinos dispostos em suas extremidades. Ao som da gaita gaúcha (acordeom), os dançarinos executam diferentes sapateados, avançando e recuando sobre o pedaço de madeira. Na qual os bailarinos se confrontam, cada um desejando mostrar as suas qualidades coreográficas, através de gestuais movimentos e sapateados, de um e de outro lado da lança de madeira, colocada devidamente no chão.

Após cada sequência realizada, o outro dançarino deverá repeti-la e em seguida realizar uma nova sequência, geralmente mais complicada que a do seu parceiro. Assim, vencerá o dançarino que conseguir não perder o ritmo, e não encostar no pedaço de madeira e conseguir realizar a sequência coreográfica dançada como desafio pelo dançarino anterior.

A dança caracteriza-se pela agilidade no sapateio do peão (como é chamado o homem nas Danças Gaúchas) ou de diversos peões, em disputas. A Chula é uma dança do Folclore Gaúcho Sul-rio-grandense Histórico, apresentado em espetáculos, a qual deve ser dançada, de preferência, com a atual Pilcha de Honra e de uso preferencial no Rio Grande do Sul, nos termos da Lei Estadual do RS Nr. 8.813, de 10 de janeiro de 1989.

Dançada por peões gaúchos trajando bombacha, botas, guaiaca, camisa clara de mangas longas, lenço regionalista-tradicional Sul-rio-grandense e o chapéu escuro e tapeado dos Campeiros do Pampa Sul-rio-grandense. Desta forma a Dança da Chula estará sendo adequadamente cultuada, preservada e divulgada pelos atuais Peões Tradicionalistas Gaúchos do Brasil.

Com passos sapateados e coreografia bastante forte, vigorosa e de marcações bem quebradas, tem sua origem, ainda, em questionamento. Há bibliografias que narram ser de origem portuguesa – mais especificamente na região de Minho e Douro. Porém, suas coreografias e movimentações se assemelham às características de algumas danças africanas. E de fato, algumas bibliografias narram sua origem em África. É comum entendê-la como uma dança mesclada de danças portuguesa e africana.


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Histórico

A chula antigamente era usada durante os bailes, onde dois peões queriam dançar com uma mesma prenda (como são chamadas as mulheres nas Danças Gaúchas), então se desafiavam entre eles. Aquele que fizesse o passo, em sapateio, sem erros teria o direito a dançar com esta prenda pelo resto do baile.

Esta dança reveste-se de particular importância no Folclore Gaúcho Sul-rio-grandense, mas tem bastante semelhança com o Lundu sapateado, encontrado em outros Estados brasileiros. A Chula também é muito difundida nas regiões do Minho e Douro, em Portugal baseada em batidas dos pés e nos desafios, e também era dançada pelos açorianos. Muitos acreditam ser ela portuguesa, porém sua coreografia lembra as danças africanas. A Chula foi muito popular em todo o Brasil, até meados do século XIX. No Rio Grande do Sul, desde os primórdios tempos foi exibida nos Fandangos.

De fato, os portugueses e africanos, na época da colonização, foram de encontro à cultura existente antes da transformação em colônia: a Cultura Guarani. Estes provinham do extremo sul da América Sulista. O encontro (nada pacifico) desses povos gerou o que se entende por cultura Brasileira Gaúcha.

O Peão, ou gaúcho, na dança da Chula, sobre e em torno da lança, simboliza a força e a resistência do povo para com a dominação da terra por mãos europeias. Uma possível e metafórica relação que pode se fazer é de que a lança no chão, narra e correlaciona-se com a resistência e a falta de oportunidade de luta do Peão para defender sua terra e sua liberdade. Por isso, o gaúcho dança sobre ela.

O antigo Gaúcho, que em suas origens, significava o homem que não tinha fronteira e não se apegava à família, em razão de uma rotina nômade, construiu suas características culturais com a relação de todos os povos que constituíam e constituem a atual Cultura Gaúcha, nas regiões do atual Uruguai, Argentina e Rio Grande do Sul, que na época chamava-se província de São Pedro do Sul.

Esse choque cultural, tão diversificado e manipulado politicamente, com base na Matriz, gerou noções que até hoje perpassam e permeiam o imaginário popular e urbanizador acerca do “gaúcho”. Nesse sentido,


O Gênero Masculino na Chula

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A masculinidade ressaltada pela Chula, no desempenho solitário do sapateado sobre uma lança estendida no chão, retrata a imponência do peão gaúcho sul-brasileiro, forjada nas intempéries da campanha e na coragem das lutas, pela conquista e guarda do seu Santo Chão. A dança serviu, ainda, de verdadeiro tira-teima entre peões, nas tropeadas da Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul para São Paulo. Nos acampamentos, tudo era decidido na agilidade dos sapateios, sob a expectativa dos demais peões. Cessaram as longas tropeadas, mas a Chula continua refletindo a máscula agilidade dos peões gaúchos do Rio Grande.

São sapateios solitários, muitas vezes servindo de galanteios oferecidos à determinada prenda expectadora como na dança primitiva.

“a sociedade dos gaúchos era uma sociedade sem mulheres. Naquela época, ‘gaúcho’ era um termo pejorativo, e significava o cavaleiro nômade, fruto de forte mestiçagem indígena, homem sem lar e sem querência…” (CÔRTES: 1997)

Provavelmente, provém daí a noção do “gaúcho macho”, que não expressava o apego à família da mesma forma que os outros povos que lá estavam, e andava sempre em bando de homens, mantendo distância de outras famílias e mulheres filhas dos Senhores da Estância. O fato é que estas mulheres, também, eram símbolos da opressão de donos ou patrões das estâncias. Patrões estes que tentavam dividir a província à revelia das necessidades e etnias que ali viviam, em prol da matriz que a tudo consumia.

Para tanto, na contradição e contestação desse cenário cultural completamente conturbado, nasceria a Chula. Dança que à época narrava as batalhas vencidas, as histórias pornográficas e as coreografias criadas nas guerras. Obviamente, algo tão “perigoso” e com o caráter libertador que tinha, foi proibida pela Igreja Católica e pelos Senhores da Estância. No âmbito das famílias dos Senhores, havia proibição para mulheres e crianças, para que não se desvirtuassem de seu rumo de “Bom cidadão”. Em decorrência, era comum a utilização de máscaras em sua execução.


A Chula Atual

A arte de dançar a Chula está presente até os dias de hoje. Seu caráter profano e de disputa foi substituído por um de parceria, ginástico e de confraternização, sendo dançada hoje em festivais para celebrar, entre todos, os “costumes” e tradições do Gaúcho. O que se pode ressaltar de importante nessa transformação para a atualidade é que hoje, ao se dançar a chula, ou ensiná-la em CTGs, faz-se de forma ilustrativa e meramente, assim categorizada, Folclórica. De forma que assim, não se glorifica ou não se ressalta seu passado de oposição a um discurso vigente, não honrando sua história e as histórias das resistências populares.

Hoje essa dança é mostrada apenas de forma cultural durante eventos, rodeios, etc., porém não podendo repetir o passo, de seu oponente. Inclusive hoje já é permitida a participação de mulheres na execução da Dança.


Não é de se espantar que a cultura gaúcha, pelo caráter natural de uma Cultura, se transforme e modifique com o passar dos anos. E que gere novos frutos das sementes que outrora forjaram a constituição cultural do povo, para a “popularização” da identidade cultural Gaúcha.


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Referências

CÔRTES, Paixão; LESSA, Barbosa. Manual de Danças Gaúchas. São Paulo: 1997


LAMBERTY, Salvador Ferrando. ABC do Tradicionalismo Gaúcho. Porto Alegre: Martins Livreiro Editor, 1989


http://pt.wikipedia.org/wiki/Chula_(Rio_Grande_do_Sul)agosto/2013


http://fronteiradapaz.com.br/tradicionalismo/?p=84 agosto/2013

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