Movimento Autêntico

De Wikidanca

Edição feita às 20h31min de 24 de agosto de 2011 por Paulagorini (disc | contribs)
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"O movimento autêntico é uma abordagem da Educação Somática que tem como objetivo desenvolver 
uma escuta apurada dos impulsos corporais, explorando uma interrogação: o que me leva a
mover?
. Pode ser um pensamento, uma sensação, um desejo, um som, uma memória, uma voz interna
ou externa. Seu objetivo é propiciar um contato com estes impulsos para que, conscientemente,
se possa expressá-los ou contê-los. À medida que a pessoa vai escutando sua própria corrente
de movimento interno e constante contato com externo, vai se apropriando melhor das relações
que estabelece consigo e com o mundo, alimentando o fluxo vital que percorre seu corpo e
estabelecendo novas e mutantes relações entre o dentro e fora, seu corpo e o mundo, seu corpo
e outros corpos."(Soraya Jorge, introdutora da prática no Brasil)

Website - Movimento Autêntico


Tabela de conteúdo

Histórico:

Mary Whitehouse (dançarina e analista Junguiana) criou o método originalmente denominado “Movimento em Profundidade”, com raízes na dança, estudos junguianos e em seu trabalho pioneiro em Dança Terapia (1950). Baseando-se no conceito Junguiano da Imaginação Ativa, Mary Whitehouse observou conteúdo simbólico no ato físico.


Segundo Soraya Jorge, em seu texto de apresentação sobre o Movimento Autêntico, os estudos de Mary Whitehouse estavam baseados na Dança Moderna, na Psicologia Junguiana, e na Consciência Corporal e Improvisação. Surgiu em uma época de grande difusão das práticas Somáticas. O termo Somatics, foi dado por Thomas Hanna em 1977 para conceituar o campo que estuda o SOMA, ou corpo. Corpo percebido pelo ponto de vista da primeira pessoa, ou seja, o observador que observa de dentro, não de fora. A terceira pessoa seria o observador externo e sua percepção diferente. Quem não olha de fora, se percebe através de seus próprios sentidos proprioceptivos.


Janet Adler é a pessoa responsável pela sistematização de uma metodologia na prática de Movimento Autêntico, nome dado por ela. Em 1969, com 28 anos, Janet Adler teve a oportunidade de experenciar o trabalho de Mary Whitehouse. Dança Terapeuta, Ph.D em Estudos Místicos, fundou o Instituto Mary Starks Whitehouse, a primeira escola focada em estudar e praticar o Movimento Autêntico. Nessa mesma época Janet Adler conheceu o trabalho de John Weir, estudioso da Psicologia da linhagem de Freud, Wilhelm Reich, Carl Roger. Um mestre nos estudos somáticos, em relações interpessoais e psicodinâmicas grupais. O centro do aprendizado de Janet com John foi a consciência da testemunha e com Mary, a consciência do movedor.


Atualmente, Soraya Jorge, formada na Califórnia por Janet Adler, principal replicadora do método no Brasil, coordena o Centro Internacional do Movimento Autêntico (C.I.M.A.). O CIMA oferece o Programa de Aprendizagem do Movimento Autêntico (M.A) - PAMA, que acontece em parceria entre Rio de Janeiro, São Paulo e Viena. O programa inicia-se em agosto de 2011 em Lisboa e é organizado por Soraya Jorge, Guto Macedo, Isaias Costa e Clarissa Costa.

A arte de mover e ser movido:

O Movimento Autêntico explora a relação entre a pessoa que move (Movedor) e a pessoa que testemunha (Witness). Explora a relação de ver e ser visto. No processo de ser visto pelo outro, a pessoa começa a SE ver. Um terceiro componente surge nessa relação – a testemunha interna (Internal Witness/ Testemunha Interna) – ver o outro como ele é, me ver como sou. Com os olhos fechados, a pessoa que move, escuta seu interior e descobre o movimento que surge de uma motivação oculta, de um impulso celular.


A pessoa que move (Movedor) fecha os olhos para fazer um mapeamento de seus próprios impulsos e decidir se quer externalizá-los ou não. E a Testemunha, de olhos abertos, observa o Movedor e o que acontece consigo próprio na presença desse outro. Se, no processo de observar o outro, aparece um julgamento, este julgamento só dirá respeito àquele que vê, e não ao outro observado. Trata-se, portanto de, ao ver o outro, a pessoa começar a se ver. Esta relação sem julgamento, ou melhor, de apropriação de pensamentos, sensações, e imaginação irá fazer surgir um terceiro componente: a Testemunha Interna1 - aquela que acolhe, e não julga.


Olhamo-nos para enfim poder ver, sem o olhar, entre as linhas do movimento. Porque mais do que as linhas da dança, o que respiro no intervalo preenche de vazio todos os cantos. Falamos, dançamos do que nos atormenta e que é nossa fonte de vida. Vibramos na dor de nascer cada partícula de tempo, no grito da pressão sanguínea, no abismo de nada saber. Movemos, testemunhamos, não há diferença quando então, vivem-se as duas funções como uma contendo a outra. Vemos no outro o que está em nós. Também é de nós o que o mundo fala. A Testemunha Interna se presentifica.



1. A Testemunha Interna está sendo internalizada pelo Movedor ao longo do trabalho. Já a Testemunha continua seu processo de ver a si e ao outro, desenvolvendo também a sua Testemunha Interna. Conquistando assim novos espaços para propiciar um campo /atmosfera mais intensivo, possível aos vários, nesta relação: Movedor / Testemunha.

Esta é uma oportunidade para:

A Prática 2:

A estrutura do Movimento Autêntico é: uma (ou várias) pessoa(s) que move(m) e outra(s) que testemunha(m), atentando para a necessidade de haver pelo menos um Movedor e uma Testemunha. A pessoa que move (Movedor) fecha os olhos para fazer um mapeamento de seus próprios impulsos e decidir se quer externalizá-los ou não. E a Testemunha, de olhos abertos, observa o Movedor e o que acontece consigo próprio na presença desse outro. Se, no processo de observar o outro, aparece um julgamento, este julgamento só dirá respeito àquele que vê, e não ao outro observado. Trata-se, portanto de, ao ver o outro, a pessoa começar a se ver. Esta relação sem julgamento, ou melhor, de apropriação de pensamentos, sensações, e imaginação irá fazer surgir um terceiro componente: a Testemunha Interna3 - aquela que acolhe, e não julga. Ou melhor, que se utiliza dos próprios julgamentos para se compreender em relação.


A um efeito sonoro, o movedor fecha os olhos e adentra o "espaço", que pode ser uma roda de pessoas no caso do trabalho em grupo, ou uma limitação física, por exemplo as paredes de uma sala. O importante é que esse espaço é estabelecido e apreciado pelos participantes antes de se iniciar a prática. A orientação dada pelo facilitador ao movedor é deixar que o movimento surja, não forçar um movimento, não que isso seja proíbido, o método é bastante libertário nesse aspecto, não há proíbido. Mas ao sermos surpreendidos pelo nosso próprio movimento, inesperado, não programado, conseguimos sair de padrões corporais já arraigados. É no inusitado, no não-mecânico, que temos maior possibilidade de auto-conhecimento. Nas palavras de Soraya: "Estamos em círculo e antes de iniciarmos ou fecharmos o movimento, testemunhamos o espaço vazio. O círculo se fortalece, com cada indivíduo testemunhando o círculo “vazio”.(idem)


A testemunha nada mais é que um movedor que observa. São lugares distintos, o de movedor e o de testemunha, mas nenhum deles é estático. A testemunha, que não está no "espaço" de movimento, observa sem julgar o movedor. Nesse exercício de testemunhar, com a premissa do não-julgamento, a testemunha afasta de si esteriótipos e preconceitos. Abre assim, um diálogo consigo mesmo. É testemunha de si também.


Os lugares de testemunha e movedor, eventualmente, podem ser alternados numa mesma sessão de movimento autêntico. Dessa forma é possível ter uma experiência ainda mais rica de auto-conhecimento e de relação com o outro. Passado um tempo, que normalmente é também pré-estabelecido entre os participantes (movedor, testemunha e facilitador) no início do trabalho, um outro sinal sonoro indica o final da sessão. A prática pode acontecer em algumas sessões curtas de tempo, ou num tempo mais estendido. Ao final, abre-se espaço para o testemunho verbal. Participantes podem colocar observações e sensações, seguindo a mesma lógica do não-julgamento.


2. Dinâmica descrita com base na experiência prática com Soraya Jorge.

3. A Testemunha Interna está sendo internalizada pelo Movedor ao longo do trabalho. Já a Testemunha continua seu processo de ver a si e ao outro, desenvolvendo também a sua Testemunha Interna. Conquistando assim novos espaços para propiciar um campo /atmosfera mais intensivo, possível aos vários, nesta relação: Movedor / Testemunha. Olhamo-nos para enfim poder ver, sem o olhar, entre as linhas do movimento. Porque mais do que as linhas da dança, o que respiro no intervalo preenche de vazio todos os cantos. Falamos, dançamos do que nos atormenta e que é nossa fonte de vida. Vibramos na dor de nascer cada partícula de tempo, no grito da pressão sanguínea, no abismo de nada saber. Movemos, testemunhamos, não há diferença quando então, vivem-se as duas funções como uma contendo a outra. Vemos no outro o que está em nós. Também é de nós o que o mundo fala. A Testemunha Interna se presentifica. Experiências de espaços vazios, silêncios, barulhos internos e externos ao se propor o não direcionamento do movimento; junto a isso, a proposta de fechar os olhos, para que se acalmem os excessos visuais e se possa perceber outros sentidos, cria-se “vacúolos de solidão”. Fechar os olhos e ouvir, a si e a todos que se encontram juntos. Outros que já estão em mim, que já são um “mim”. A Testemunha convida o Movedor a fechar os olhos e a mover, pausar. Fechá-los não para brincar de cego, mas para ver, para acalmar os julgamentos da visão, testemunhando do quanto de diálogo interno está povoado, já que os olhos, quando em ação, tomam lugar dessa percepção. Respira-se tempo, pois esta estrutura favorece outros estados de consciência. Um tipo de solidão, porque não se atém ao forte sentido dos olhos. Um certo vazio, que ao ser vivido, atravessado, movido, provoca a criação de muitas outras maneiras de existência.

Referências Externas:

Ferramentas pessoais
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