Bumba meu boi
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Edição atual tal como 19h39min de 25 de fevereiro de 2017
Autor: Massuel dos Reis Bernardi
Bumba meu boi, boi-bumbá ou pavulagem é uma dança do folclore popular brasileiro, com personagens humanos e animais fantásticos, que gira em torno da morte e ressurreição de um boi. Um auto popular (folguedo) encontrado em todo o Brasil principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Também considerado um auto ou drama pastoril que, por tradição, é representado em campo aberto ou residências particulares, durante o período natalino, como sobrevivência das festividades cristãs medievais, em que o culto do boi se fazia em homenagem ao nascimento de Cristo.
A festa do bumba meu boi surgiu no nordeste do país. Assim foram criadas lendas, todas sem qualquer fundamento histórico, mas como muitas outras Danças Populares são contadas e atravessam gerações perdurando nas culturas populares brasileiras.
Sua origem está ligada ao ciclo do gado, e no estado do Maranhão apresenta-se com características próprias no Estado. Lá é realizado em comemoração á Santo Antônio, São Pedro, São João e São Marçal.
“o Bumba-meu-boi diferenciou-se das demais formas nacionais, adotando um conteúdo ritualístico próprio, diversificando seus estilos e sotaques; criando novas formas de apresentação, de músicas, de adereços e pautando sua sobrevivência pelo gosto popular, sem, no entanto, desrespeitar a lenda que dá origem ao auto” (GOMES 2009 apud MARQUES,1999)
A história se desenvolve a partir de um auto onde a história central é comum a todos os grupos, com poucas variações regionais. Possui um ciclo próprio composto pelos ensaios, o nascimento (ou renascimento) e o batismo de um novo Boi, as apresentações públicas e a morte, para então ressurgir no próximo ano.
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Histórico
O termo Bumba-meu-boi, diverge opiniões. Para Gustavo Barrosos (1923), a expressão “Bumba-meu-boi” significa “zabumba, meu boi” ou “o zabumba está te acompanhando boi”, porque durante a exibição do boi, o coro que canta o estribilho diz: “ê bumba, marcando o ritmo no zabumba. Para Câmara Cascudo (1956), “Bumba” é a interjeição “zás” que significa: “Bate, chifra, meu boi”.
Este folguedo vem de uma tradição luso-ibérica do século XVI, com outras influências europeias como a da antiga comédia popular italiana, presente nesta farsa com seus diálogos improvisados e seus personagens burlescos, e ainda sob influência inglesa no que diz respeito ao uso da máscara e na ausência do elemento feminino.
No Nordeste, o Bumba-meu-boi nasceu dos escravos e pessoas pobres agregadas dos engenhos e fazendas, trabalhadores rurais e de árduos ofícios nas cidades, sem a participação feminina. Formado no cenário do ciclo do couro onde a área pastoril nordestina era bastante desenvolvida, contando, principalmente com o papel relevante do vaqueiro, o personagem central.
Uma das lendas em torno de seu surgimento diz que a festa surgiu no Estado do Piauí, pois a região onde hoje se situa o Piauí começou a ser povoada por vaqueiros que vinham da Bahia em busca de novas pastagens para o gado. Porém, o único fato conhecidamente certo sobre a história do surgimento dessa festa é o de um episódio ocorrido no período da dominação holandesa no estado de Pernambuco, mais precisamente em Recife. Esse acontecimento é denominado de episódio do Boi Voador, e que, a partir dai, teria evoluído para uma lenda com uma história mais elaborada tal como é hoje.
Mas é no Estado do Maranhão que o bumba meu boi tem sido mais valorizado em todo o nordeste e, dali, exportado para o Estado do Amazonas com o nome de boi-bumbá, visitado anualmente por milhares de turistas que vão conhecer o famoso Festival Folclórico de Parintins, realizado desde 1913.
Atualmente, a essência da lenda enlaça a sátira, a comédia, a tragédia e o drama, e demonstra sempre o contraste entre a fragilidade do homem e a força bruta de um boi. Esta essência se originou da lenda de Catirina e Pai Francisco, de origem nordestina. Ao ser levada para a região Norte, sofreu adaptação à realidade amazônica, e faz reverência ao boi como se esse fosse nativo da floresta Amazônica (o que é historicamente incorreto, pois o gado bovino não é nativo das Américas), também exaltando a alegria, sinergia e força das festas coletivas indígenas.
Ao espalhar-se pelo país, o bumba meu boi adquire nomes, ritmos, formas de apresentação, indumentárias, personagens, instrumentos, adereços e temas diferentes. Dessa forma:
Em Pernambuco é chamado boi-calemba ou bumbá;
No Maranhão, Rio Grande do Norte, Alagoas e Piauí é chamado bumba meu boi;
No Ceará, é boi de reis, boi-surubim e boi-zumbi;
Na Bahia, é boi-janeiro, boi-estrela-do-mar, dromedário e mulinha-de-ouro;
Em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Cabo Frio e Macaé (em Macaé, há o famoso boi do Sadi) é bumba ou folguedo-do-boi;
No Espírito Santo é boi de reis;
Em São Paulo é boi de jacá e dança-do-boi;
No Pará e Amazonas, é boi-bumbá ou pavulagem;
No Paraná, e Santa Catarina, é boi-de-mourão ou boi-de-mamão;
No Rio Grande do Sul é bumba, boizinho, ou boi-mamão.
Enredo
Existem muitas histórias sobre a lenda do boi. Uma das mais conhecidas é a que envolve um casal de negros, Pai Francisco (Chico) e Catirina, empregados de uma fazenda e um boi (o novilho querido do fazendeiro).
A história se desenrola a partir do desejo de Catirina, que grávida, tem desejo de comer língua de boi. Chico para satisfazer o desejo de sua mulher, rouba o Boi para arrancar a língua e cozinhar para sua esposa.
O fazendeiro dando por falta do seu boi novilho querido, ordena que os vaqueiros e os índios o procurem. Estes ao encontrarem o Boi, notam que ele está doente.
O fazendeiro ao saber da doença do boi chama o curandeiro/pajé/médico para curá-lo.
Após muitas tentativas, o boi finalmente é curado (ressuscita), e o fazendeiro, perdoa Pai Chico e Catirina, encerrando a representação com uma grande festa.
A manifestação apresenta grande plasticidade e grande relevância sócio-política, cuja perpetuação até os dias de hoje é a justificativa de sua permanência funcional.
Sob o formato de um teatro popular do povo e para o povo, onde se entrecruzam raças, classes sociais, anseios, críticas, religiosidade, fantasia, conhecimento e desconhecimento do mundo real e do sobrenatural, num desfilar constante de cantos e danças nos quais os participantes vivem e revivem os momentos mais divertidos e pitorescos da sua vida cotidiana.
Personagens
Os personagens do Bumba-meu-boi são classificados em categorias: humanos e animais fantásticos, variando conforme o lugar podem ter nomenclaturas diversas.
Personagens Humanos
Os personagens humanos mais comuns são:
Vaqueiro – figura representativa do sertão, veste-se a caráter com gibão e chapéu de couro;
Catirina – representa a prostituição e é sempre um homem travestido de negra despachada, usando roupa velha e lenço na cabeça;
Doutor, Curador ou Padre – representam de maneira satírica a ciência, a magia e a religião, às quais se recorrem a fim de ressuscitar o boi. Estes três elementos se vestem de acordo com a profissão;
Caretas ou Papangus – representam uma crítica à servidão do negro. Usam trajes de negrinhos (máscara, carapinha, boina, etc.);
Fazendeiro ou Coronel – dono do boi, que representa o domínio do senhor de Engenho. Usa geralmente uma chibata que representa o símbolo da autoridade;
Galantes – são a própria narrativa do tema. Cantam e dançam as loas sem tomarem parte direta no auto. Vestem geralmente trajes de seda, em cores vivas.
Personagens Animais
Os que predominam são:
Burrinha – símbolo do trabalho – é uma composição híbrida, homem e animal, formada por um arcabouço em forma de burrinha;
Ema – símbolo do sustento – é uma armação coberta de penas, conduzida por um garoto;
Bode – símbolo das atividades sensuais – é uma coberta de pano na forma desse animal, sendo usada por um elemento desinibido e gaiato;
Boi – símbolo da coragem e da altivez, que morre e ressuscita, numa demonstração das duas forças antagônicas: o bem e o mal. É uma armação de madeira leve, coberta de tecido preto ou branco manchado de preto, todo adornado de fitas e espelhinhos para afugentar os males, que traz um ou dois homens sob seu arcabouço;
Jaraguá – que representa o mundo sobrenatural e desconhecido. É uma armação em forma de girafa com queixada de cavalo, coberta com cores vivas e que causam impacto.
Estrutura de apresentação
As apresentações, geralmente são iniciadas com a apresentação de cada personagem, onde cada um tem seu momento e uma música característica que obedece, de um modo geral, à forma estrofe-refrão.
A Música
Ora os trechos musicais são tradicionais, ora são modernos aproveitados da festa do povo, o carnaval. Vezes há em que são improvisados, predominando os ritmos: marcha e baião.
Os instrumentos musicais são os mais diversos e dependem da região onde se apresenta o boi. Cada uma delas tem seus instrumentos peculiares: zabumba, triângulo, pandeiro, sanfona, violão, cavaquinho e, muitas vezes, sax ou clarineta. Mas, o verdadeiro instrumental do bumba-meu-boi é aquele que compõe o que se chama “Conjunto de Forró”. Na zona do Cariri, este é muitas vezes acompanhado pela Banda Cabaçal.
Instrumentos
Os bois de influência predominantemente indígena, bois de matraca, utilizam mais os seguintes instrumentos:
Maracá: instrumento feito de lata, cheio de chumbinhos ou contas de Santa Maria. É um instrumento de origem tanto africana como indígena;
Matraca: feita de madeira, principalmente pau d'arco, é tocada batendo-se uma contra a outra;
Pandeirão: pandeiro grande, coberto geralmente de couro de cabra. Alguns têm mais de 1 metro de diâmetro e cerca de 10 cm de altura. São afinados a fogo.
Tambor onça: É uma espécie de cuíca, toca-se puxando uma vareta que fica presa ao couro e dentro do instrumento. Imita o urro do boi, ou da onça.
Os bois de zabumba utilizam principalmente:
Tamborinho: pequeno tambor coberto de couro de bicho. O mais comum é usar couro de cutia. É tocado com a ponta dos dedos.
Tambor Onça: É uma espécie de cuíca. Toca-se puxando uma vareta que fica presa ao couro dentro do instrumento;
Zabumba: é um grande tambor, conhecido também como bumbo, é um instrumento tipicamente africano;
Tambor de Fogo: feito de uma tora de madeira ocada a fogo e coberto por um couro cru de boi preso à tora por cravelhas. É um instrumento tipicamente africano;
Os Bois de Orquestra têm instrumentação muito variada, utilizam instrumentos de sopro como saxofones, trombones, clarinetas e pistões; banjos, bumbos e taróis, e também mara.
A Dança
A coreografia se apresenta da seguinte maneira: os galantes formam dois cordões, um de cada lado do
cenário, enquanto as figuras vão se apresentando por ordem de entrada com danças e
passos variados, de acordo com o ritmo.
A dança compõe todo o espaço da apresentação, o que é feito com canto, diálogo e dança.
Através da improvisação de versos, aproveitados para ironizar alguns dos presentes, oferecendo-lhes o que há de menor importância (as partes do boi) e que chega a provocar gargalhadas na plateia: chifres, língua, tripa, rabo, etc.
Após a ressurreição do boi, todos cantam, dançam e se despedem do público.
Festival de Parintins
Considerado uma das maiores festas regionais do país, o Festival de Parintins não acontece durante o carnaval, mas pode ser comparada às grandes manifestações carnavalescas que acontecem pelo Brasil, por sua importância e grandiosidade. Presente no calendário oficial de eventos de ou Parintins desde 1965, o evento se repete todo mês de junho. O nome do festival é originário do lugar onde ela acontece, a Ilha de Parintins, a 420 quilômetros de Manaus.
Durante o festival é representada uma rivalidade quase centenária entre dois grupos que encenavam nas ruas de Parintins o folclore do boi-bumbá.
Cada um dos bois encenam a lenda à sua maneira
O boi Garantido, fundado em 1913, foi o primeiro a encenar. É o mais popular dos grupos e sua cor é a vermelha.
Nove anos depois foi fundado o boi Galante, que viria a se chamar Caprichoso a partir de 1925. Sua cor é o azul que representa a elite amazonense.
Até o ano de 1987, a disputa entre os bois aconteciam no centro de Parintins. No ano seguinte foi construído uma arena, para onde as apresentações foram transferidas. Hoje, o evento recebe cerca de cem mil pessoas no "bumbódromo" nas três noites de disputa. Diferente do que acontece nos sambódromos, apenas 5% dos ingressos do bumbódromo são vendidos, o restante é distribuído de graça para as torcidas dos bois.
As Toadas
O ritmo predominante se chama Toada. As toadas são cantigas que em geral refletem as peculiaridades regionais do Brasil, ou seja, não se trata de um ritmo exclusivamente amazonense. Pode ser composto por melodias de diversos tipos: simples, ora chorosa e triste, ora álacre e buliçosa, ora cômica ou satírica. Em geral, as toadas não são romanceadas, mas possuem estrofes e refrãos. Até o final dos anos 80, no Amazonas, as toadas eram músicas cujas letras exaltavam o boi e a cultura cabocla parintinense.
Na década de 90, a temática indígena que foi introduzida com sucesso no Boi Bumbá de Parintins, ganhou mais força, principalmente com o advento dos rituais indígenas, que se tornaram o ponto alto do Festival.
Com o sucesso de tais toadas, o público da capital, Manaus, adotou a toada como símbolo da cultura amazonense.
O Desfile
Cerca de três mil e quinhentos integrantes de cada boi desfilam por noite, divididos em 30 tribos (uma espécie de ala de escola de samba). Cada boi possui um mestre de cerimônias, que narra o enredo e as alegorias.
O Garantido e o Caprichoso desfilam por três noites, em apresentações que duram duas horas e meia. As coreografias dos bois são ensaiadas durante seis meses nos "currais", espaços equivalentes às quadras de escolas de samba.
Em Parintins, cada boi apresenta cerca de vinte toadas - canções de melodia simples sobre a lenda do boi-bumbá - acompanhados por uma bateria composta por aproximadamente quinhentos músicos. As alegorias são empurradas por pessoas e podem chegar a 40 metros de comprimento e 12 metros de altura.
Patrimônio
O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural aprovou em agosto de 2012 o Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão como Patrimônio Cultural do Brasil. A proposta de foi apresentada em 2008 ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan pela Comissão Interinstitucional de Trabalho, composta pela Superintendência Regional do Iphan e atual Superintendência do Iphan no Maranhão, Secretaria de Estado de Cultura, Fundação Municipal de Cultural, Comissão Maranhense de Folclore, Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular da UFMA, representantes dos Grupos de Bumba-meu-boi dos Sotaques da Baixada, Matraca, Zabumba, Costa-de-mão, Orquestra e de Bois Alternativos.
Links Relacionados
http://www.boibumba.com/howto_pt.htm
Ver Também
Referências
BARROS, Antonio Evaldo Almeida. O Pantheon Encantado: Culturas e Heranças Étnicas na Formação de Identidade Maranhense (1937-65). Dissertação de Mestrado em Estudos Étnicos e Africanos. Salvador: PÓS-AFRO/CEAO/UFBA. 2007.
BARROSO, Gustavo. O Sertão e o Mundo. Rio de Janeiro: 1923.
CARVALHO, Maria Michol Pinho de. 1995. Matracas que desafiam o tempo: é o bumba-boi do Maranhão. São Luís: s/e.
CASCUDO, Luís da Câmara. Tradições populares da pecuária nordestina. Rio de Janeiro: 1956.
PRADO, Regina de Paula Santos. 1977. Todo ano tem: as festas na estrutura social camponesa. Dissertação de Mestrado em Antropologia. Rio de Janeiro: PPGAS-MN/UFRJ.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bumba_meu_boi maio/2013
http://www.ifce.edu.br/miraira/Patrimonio/FolguedosBailados/BumbaMeuBoi/Bumba-meu-boi-LMFC.pdf maio/2013
http://connepi2009.ifpa.edu.br/connepi-anais/artigos/187_3234_1307.pdf maio/2013